quinta-feira, 3 de junho de 2010

BALAS, SEBO E UMA GUERRA...

O LEVANTE DOS SIPAIOS


De a índia ser um lugar exótico isso nã
o se discute, com uma colorida história de civilização que remonta milênios. Dona de religião, lendas, mitos e culinária fascinante, berço de uma das mais antigas línguas do mundo: o sânscrito, com obras épicas colossais como o Ramayana e o Mahabharata, além do popular tratado sexual Kama Sutra, certo? Mas também foi palco de uma sangrenta revolução nacionalista que começou com... Ojeriza a sebo.



CAUSAS DA REVOLTA


A região do subcontinente Indiano (e o oriente em geral) sempre foi motivo de disputa comercial na Europa
, saindo os portugueses na frente com certa vantagem em conquistar territórios, tendo em 1498 Vasco da Gama chegado a Calicute na Índia (é só observar até hoje o idioma português falado no enclave de Goa), inaugurando a corrida pelos tesouros do extremo oriente. A Companhia das Índias Orientais terminou com o monopólio português (principalmente das especiarias usadas na época como temperos e conservantes) de mais de 100 anos em meados do começo do século XVII.
Os ingleses passaram a exercer seu domín
io sobre a Índia no séc. XVIII, tornando-o mais efetivo no século XIX. Além do poderio militar foi importante para isso uma série acordos com os estados hindus divididos entre dinastias de Rajás, Marajás, e Nababos (os "Estados principescos" que em 1858 somavam 562) que mesmo com a presença incômoda dos europeus, continuavam a ser dirigidos por estes príncipes até que lhes impuseram a doutrina de preempção (doutrine of lapse).
Idealizada pelo governador inglês Dalhousie (Governador-Geral da Índia de 1848 a 1856) no séc. XIX, a doutrina de preempção submetia à chancela inglesa a sucessão ao trono dos herdeiros e sucessores nos estados dos monarcas sem filhos ho
mens legítimos. E em caso de negativa aglutinando os territórios e as riquezas dos rajás as possessões da coroa inglesa (por exemplo as jóias da Família Real de Nagpur foram leiloadas publicamente em Calcutá). Tal política, necessária por causa das dificuldades financeiras da Companhia das Índias, foi lançada depois desta derrotar os Siques do Punjab e anexar a Birmânia. Assim se expandido para aumentar seus lucros, proibiu a alguns dos filhos adotivos em alguns estados independentes de assumirem os cargos vagos, vindo os ingleses a anexar mais que uma dúzia de Rajes independente entre 1848 e 1854.
Os ingleses se intrometeram também nos milenares costumes locais, como o costume funesto do Sati ou Suttee (que consistia na viúva acompanhar o marido morto e imolar-se na sua fogueira funerária), o casamento entre crianças, e o culto dos Tugues à deusa multibraços Kali e seus sacrifícios humanos que vitimaram mais de um milhão de pessoas, mortas por estrangulamento. Presume-se que o último Tugue tenha sido enforcado em 1882. O termo Tugue vem do sânscrito e quer dizer "enganador", pois atraíam suas vítimas para a morte através de engodos. O antigo sistema de educação das Pathshalas (ou escolas de aldeia) foi paulatinamente sendo destruído, privando os indianos de sua educação tradicional. No caldeirão onde fervilhavam os elementos da revolução fermentavam as queixas dos indianos frente ao desrespeito aos seus costumes sociais, a destruição das suas dinastias reais, taxas e impostos altos, acusações de maus-tratos e torturas por parte dos colonialistas.
Ainda circulava entre o populacho o boato de que os ingleses procuravam destruir sua cultura, religião, e convertê-los ao cristianismo. Isso era um mesmo um fato, pois o representante da Companhia das Índias Orientais, Sr. Mangles, discursou no Parlamento em 1857 falando sobre a Cristianização da Índia, bem como os escritos do Reverendo Kennedy sobre a necessidade da Índia se converter. Os missionários ingleses na Índia faziam agressiva campanha doutrinária entre os mais pobres e famintos. Havia também uma profecia que marcava o fim do governo da poderosa Companhia Britânica das Índias Orientais ao término de 100 anos, e isso ocorreria justamente no ano de 1857 (a companhia havia tomado a Índia como um câncer monopolizando o seu comércio e apropriando-se das riquezas, tendo como lastro para isso respeitável poderio militar e administrativo, possuindo 3 administrações coloniais regionais). Estava criado o ambiente de descontentamento popular que levaria a revolta de 1857. Necessitava-se apenas de um pretexto, e este foi religioso.


UM DOS PIVÔS DA REVOLTA DOS SIPAIOS: O MOSQUETE ENFIELD 1857



A presença de nativos nas tropas de sua majestade era imprescindível, pois sua resistência física, robustez, e rusticidade eram sempre úteis, a sua obstinação também era um problema para as autoridades inglesas. Mas eles conheciam e estavam adaptados as rudes e inóspitas condições do terreno, então eram um mal necessário, além de poderem ser recrutados em grande número. Os soldados hindus, muçulmanos e outros, a serviço dos ingleses eram chamados de Sipaios (termo que vem do híndi Shipahi, "soldado", e que também pode ser grafado como Sipais, Cipais, e Cipaios). Havia cerca de 200.000 Sipaios do exército da Companhia Britânica das Índias Orientais, contra 40.000 britânicos.
Apesar de numerosos os Sipaios tinham vida dura, recebiam um salário (soldo) pequeno, tinham de pagar do bolso as despesas de transporte quando viajavam em serviço, e havia internamente discriminações às castas sociais inferiores aos brâmanes e xátrias. A insatisfação piorou quando em 1856 os Sipaios foram obrigados a servir em ultramar durante uma guerra na Birmânia. A tradição hindu dizia que os de castas mais altas que “viajassem sobre as águas negras” perderiam a sua posição e seriam considerados párias nas suas comunidades. Assim era permitido que os Sipaios mantivessem dentro do exército as mesmas tradições e costumes de suas etnias ou religiões.
Poderia se dizer que as armas inglesas em determinado período foram pensadas e construídas em íntima relação com a fauna das colônias na África e Índia. Enquanto a caça na velha Albion se classificava como leve, servindo a este propósito espingardas e fuzis de calibres menores, os felinos, elefantes e demais peças de caça das colônias exigiam fuzis muito potentes (vide os primeiros e brutais fuzis express de antecarga, e os posteriores de retrocarga em calibre .600 e .700 nitro para elefantes). Os ingleses também sempre procuraram manter seus exércitos equipados com as melhores armas, principalmente nas colônias, pois a violência e resistência dos nativos locais eram legendárias, necessitando de projéteis de potência considerável para deter tais homens (tempos depois isso culminaria na filosofia dos cartuchos “manstopper” para fuzil e revolver).
Para substituir as P-1839 Tower Musket e as British Pattern 1842 de percussão e cano liso foi adotado o mosquete raiado Enfield Pattern 1853 Rifle-Musket (também conhecido como Enfield Pattern 1853, ou para os mais íntimos Enfield P53 ou apenas P53). Este era uma arma de antecarga com sistema de percussão, cano de 39 pol. com alma raiada (3 raias, com passo de 1:78” que sofreram mudança na profundidade em 1858), calibre .577. O cano tinha três braçadeiras de metal, sendo um dos nomes deste modelo entre os colecionadores internacionais "três bandas" (para diferenciá-lo da versão menor 2 bandas de 1858, adotada pela Real Marinha Inglesa). Pesava 4.3 kg descarregado. A alça de mira era ajustável para 100, 300, e 400 jardas, possuindo uma segunda lâmina para distâncias maiores graduada (a depender do modelo) de 900 até 1250 jardas. Foi usado de 1853 até 1867 em 4 versões com diferenças mínimas de braçadeiras, miras e comprimentos de canos (sub-variantes 1º modelo, 2º modelo, 2º modelo do contrato Windsor, 3º modelo e 4º modelo). Foi substituído pelas armas de retrocarga e cartucho de metal, sendo muitos os Enfield P53 convertidos para o sistema Snider de cartucho metálico.
O estopim da revolta dos Sipaios absurdamente foi o cartucho desta arma (referindo-se aqui a munição não metálica de espoleta desengastada, “cartucho”, vem do italiano cartuccia – carta- e nesta época significava o embrulho de papel que continha a carga de pólvora e o projétil. Sendo que o projétil ficava na parte inferior do cartucho com a ponta virada para a carga de projeção).
Os cartuchos da P53 continham 69,4 grains de pólvora negra (inicialmente do tipo RFG, depois G, e finalmente J2), e a “bala” era normalmente uma com peso de 530 grains (34,3 g) podendo ser uma do tipo Enfield / Pritchett. Este tipo de projétil foi desenvolvido por William E. Metford sendo uma modificação da bala de Minié, o que resultou num projétil cônico de laterais retas sem canaletas de lubrificação e base oca, que possuía “paper patcht” oleado. O conceito era o mesmo da minié: que o fundo se expandisse e se deformasse contra o raiamento pela pressão do gás na cavidade.

Bala tipo Pritchett moderna

Esta bala foi apresentada ao governo inglês pelo armeiro Richard Ellis Pritchett, e foi adotada como projétil Metford/Pritchett, e foi testada em campo na Guerra da Criméia onde o P53 foi considerado de precisão inferior aos P-51, sendo que para atender a demanda as trabalhosas balas Pritchett, (que eram feitas pelo sistema de compressão e não fundidas, pois assim se garantia o peso e o perfil perfeitos) foram substituídas em parte pelas tipo Minié, com a tradicional cunha de ferro na base oca do projétil para aumentar o seu diâmetro fazendo-o se engastar no raiamento. Embora deva se fazer a ressalva que este tipo de projétil podia se fragmentar na boca do cano, sendo relativamente perigoso. Assim a escola de tiro de Hythe testou e adotou para o mesmo fim uma peça semelhante feita de madeira de buxo, e em 1864 o Cel. Edward Boxer (o inventor das espoletas que levam seu nome) propôs que se usasse uma cunha de argila, sendo que este tipo foi considerado o ideal para o serviço inglês. Em 1858 o calibre reduziu-se de 14,42 para 13,97 mm sem perda significante de precisão, com aumento da facilidade de recarga. A velocidade na boca do cano era de 850-900 pés por segundo (280m/s) com uma energia cinética de 150 kgm na boca do cano.
O cartucho de papel do Enfield .577 (que era composto por 3 camadas de papel tipo Whitefine), era usado rasgando-se o topo do invólucro, despejando-se a pólvora no cano, colocava-se a base do cartucho (contendo o projétil) e em seguida, rasgava-se o excesso de papel na ponta do projétil, servindo o papel de bucha entre o projétil e o raiamento. Para evitar que a umidade deteriorasse a carga de pólvora, o cartucho era inserido num banho lubrificante composto por uma mistura de 50% de cera e 50% de gordura animal (os projéteis de Enfield .577 usados na guerra civil dos EUA tinham a mesma composição de lubrificação). Aí residia o cerne da questão que se espalhou entre os Sipaios: a gordura animal usada na impermeabilização e lubrificação dos cartuchos ou devia vir do boi – animal sagrado para os hindus - ou era banha de porco - animal imundo para os soldados muçulmanos (uma terceira fonte afirmava que na verdade era gordura de carneiro, animal neutro para as 2 religiões). Alguns historiadores culpam em parte a predominância das castas mais altas no Exército de Bengal pelo motim, como se poder ver nesta história corrente sobre o seu início. Dizem que em algum momento no fim da terceira semana de janeiro de 1857, um khalasi, (trabalhador), abordou um Sipaio de origem Bramâne (casta alta) e pediu um gole de água de seu lotah (panela de água). O Bramâne recusou devido a sua posição superior de casta. O khalasi então disse: "Você logo perderá sua casta, pois você vem mordendo cartuchos cobertos com o gordura de porcos e vacas".
Como na época era costume entre os exércitos mundiais rasgar o papel do invólucro do cartucho com os dentes (por esta mesma razão por muito tempo foi uma exigência de recrutamento que o candidato a soldado tivesse dentes, e isso não é piada não!!), fatalmente se tocava os lábios na graxa de lubrificação do projétil/cartucho que era composta com gordura animal. Aliás, havia mesmo a determinação em manual que “ sempre que a graxa em torno do projétil parecesse estar derretida, ou caso contrário mesmo removida do cartucho, os lados do projétil deviam ser molhados na boca antes de se por o projétil no cano; a saliva servirá ao propósito de graxa." Assim para ambas as castas de guerreiros, com este ato se cometia pecado contra suas respectivas religiões!
Uma correção deve ser feita: é comum encontrarmos principalmente em textos em inglês sobre o levante dos Sipaios de 1857, que a arma causadora da "quizumba" seria o fuzil Lee-Enfield, o que é um equivoco inexplicável, pois o Lee-Enfield de repetição por ferrolho entrou em serviço em 1895 substituindo o fuzil Lee-Metford adotado em 1888. Usava a famosa munição .303 British de cartucho metálico, que sendo um invólucro hermético contra umidade obviamente não necessitava de ser lubrificado externamente com sebo ou gordura.
Deve-se lembrar que lubrificantes (sintéticos obviamente) são usados até hoje em projéteis de chumbo para se evitar o chumbamento da alma do cano (sujeira por resíduos de chumbo), o que prejudicaria fatalmente a precisão.
Apesar dos britânicos afirmarem depois (obviamente para contentarem os nativos) que os projéteis .577 eram lubrificados com cera de abelha ou óleos vegetais, e quando os aconselharam aos Sipaios que eles próprios lubrificassem os seus cartuchos e projéteis usando o que melhor lhes aprouvesse, pareceu mais claro ainda que os ingleses tentavam conspurcá-los com substâncias impuras. A ordenança tentou em vão mudar a técnica de abertura do invólucro, sugerindo que os soldados deixassem de morder e passassem a rasgar o papel do cartucho com os dedos, mas a dificuldade na hora de carregar a arma aumentou. Curiosamente depois do motim indiano os manuais ingleses de infantaria mudaram o método de abrir o cartucho de papel, preconizando que se usasse o dedo indicador e dedo polegar da mão esquerda, e com o braço perto do corpo, cuidadosamente se retirasse a parte superior do cartucho sem derramar a pólvora.
No geral a maioria dos oficiais britânicos desprezava tal problema, o que aumentava a raiva dos hindus, finalmente em janeiro de 1857 um dos regimentos lotado próximo a Calcutá se recusou a usar a munição “impura”, e em 25 de fevereiro o 19° regimento se amotinou em Berhampore inclusive com um de seus homens disparando contra um oficial. O 34° Regimento em Barrackpore se rebelou em 31 de março. Os Sipaios envolvidos no episódio foram punidos com severidade sendo condenados a dez anos de trabalhos forçados, e dissolveram-se os regimentos. A rebelião de fato se iniciou em 10 de Maio de 1857 com o 11° regimento de cavalaria Sipaio do exército de Bengala, em Meerut libertando os integrantes do 3° regimento de cavalaria leve, que estavam encarcerados por se recusar a usar os cartuchos de Enfield. O 20° regimento de cavalaria também se juntou ao motim.
O banho de sangue teve início com o assassinato de todos os europeus do lugar (não importando idade ou sexo), e dos indianos cristãos. Os rebeldes marcharam contra Deli logo em seguida onde obtiveram mais reforços, massacrando novamente os europeus e cristãos, bem como atacaram a guarnição inglesa local. O norte e o centro da Índia arderam em chamas, e a luta durou um ano (mas as escaramuças que seguiram ao fim do levante durariam mais tempo), sendo que muitos regimentos de Sipaios e vários principados aderiram ao motim, em contrapartida muitos soldados nativos e outros principados se mantiveram fieis aos britânicos. Os revoltosos se colocaram sob a tutela do último imperador Mogol Bahadur Shah.
A campanha de terror continuou em Kanpur (Cawnpore), onde o General Wheeler resistiu durante três semanas com pouca água e comida. Um dos lideres da rebelião, Nana Sahib prometeu-lhe salvo-conduto, e os britânicos e famílias em 27 de junho 1857 fizeram a retirada via barco, sendo massacrados nos bancos do rio. As mulheres e crianças sobreviventes foram feitas prisioneiras pelos rebeldes, e em 15 de julho quando Cawnpore ia ser evacuada, foram mortas a golpes de facas e machados. Tendo os sipaios se recusado a assassiná-las, sendo a carnificina levada a cabo por dois açougueiros muçulmanos, dois camponeses hindus e um guarda-costas de Nana Sahib. Os britânicos jamais esqueceram Kanpur.
A contra-ofensiva inglesa derrotou o grosso das tropas rebeldes perto da cidade de Deli, ajudados por soldados das etnias Sique, Patchun e os famosos Gurcas nepaleses (o rei do Nepal na ocasião teria enviado milhares de homens para lutar ao lado dos ingleses, ao lado dos 1.500 que já faziam parte de algumas unidades pertencentes a Cia. das Índias). Deli caiu após semanas de luta encarniçada, e os ingleses massacraram uma grande quantidade de civis a golpes de baioneta, um jovem oficial em suas memórias diz que jamais esqueceria dos gritos das mulheres ao ver os maridos e filhos sendo mortos. Bahadur Shah foi preso e seus filhos executados pelos ingleses. O último imperador Mogol, coroado imperador da Índia pelos revoltosos morreu no exílio em Burma. Logo em seguida cairia Lucknow. Combates importantes também ocorreram em Awadh, Jhansi e Gwalior.
O sul da Índia por razões étnicas, religiosas e políticas, decidiu permanecer fora do conflito. A revolta falhou pela óbvia falta de homogeneidade política, pois cada grupo racial tinha seus próprios interesses, faltava clareza de intenções e unidade de comando.
Os Sipaios sobreviventes foram executados, e a ordem era não fazer prisioneiros, e os poucos eram executados depois. A vingança inglesa não poupou nem indefesas aldeias de civis, e algumas foram eliminadas inteiras por serem pró-rebeldes.
Um nome importante do panorama do mundo das armas foi o Cel. inglês George Vincet Fosbery, mais conhecido pelo revólver automático que projetou. Ele entrou para o exército de sua majestade em 1852 e servia no 4º Regimento Europeu de Bengala. Combateu no levante dos Sipaios e tempos depois seria condecorado com a Victoria Cross pela bravura em combate demonstrada no episódio acontecido em 30 de outubro de 1863, quando comandou a sua fração de tropa na tomada do Rochedo Picquet.
Uma história que li na infância sobre a revolta dos Sipaios e que me marcou muito foi o "Anjo de Jaipur" um conto (?) fantástico na antiga revista Kripta nº 48, de Junho de 1980 sobre um tenente aviador inglês da primeira guerra mundial que entra numa estranha neblina e num lapso temporal (improvável não associar com Triângulo das Bermudas, Einsten & e física quântica... intrigantes), sobrevoa com seu Avião Sopwith Camel em 1918 a guarnição inglesa de Jaipur cercada pelos rebeldes em 1857, e salva seu próprio pai da morte certa. Os oficiais ao ouvirem o seu relato obviamente o tratam como louco até que entra um sargento mecânico e diz que o avião está todo perfurado de balas... Que não se usam desde o levante indiano! A estória (tratada como fato verídico) ainda diz que todos os sobreviventes reconheceram em um biplano inglês da 1ª guerra a besta que sobrevoou o forte naquele dia, salvando os poucos soldados ingleses restantes... Deliciosas memórias.
Como efeito prático mais visível, a revolta ocasionou o fim da Companhia Britânica das Índias Orientais, passando a administração da Índia a ser exercida pela própria Coroa britânica (O Raj britânico), com as figuras de um secretário de Estado e de um governador-geral (chamado de vice-rei) para a Índia. A Rainha Vitória foi consagrada em 1877 como Imperatriz da Índia e os britânicos lá permaneceriam ate 1947...
Este conflito acende paixões e reabre velhas feridas até hoje. Na Índia e no Paquistão o chamam de "Guerra de Independência de 1857", já os ingleses o chamam de " A Insurreição ou o Motim indiano", "O Grande Motim indiano", "Revolta, Motim, ou Rebelião dos Sipaios ", "Guerra dos Sipaios", ou ainda "Rebelião ou Revolta de 1857". Alguns preferem chamar de "A Revolução indiana de 1857". Deve-se constar que o termo “Motim Indiano” ou congênere, ofende a maioria dos Indianos que vêem nisso menosprezo ao esforço de seus antepassados para se libertar do jugo inglês.
E no que se refere ao fuzil Enfield 53 e sua participação na revolta dos Sipaios de 1857 poderia se dizer sarcasticamente que a característica mais mortal da sua bala .577 foi a sua cobertura sebosa, que teve o condão de deflagrar uma guerra...

Um comentário:

  1. Gabriel S. do Nascimento15 de março de 2012 às 20:48

    Realmente impressionante como uma simples cobertura de sebo teve a capacidade de começar um terrível banho de sangue... Excelente seu texto, agora vou frequentar regularmente esse seu excelente site!
    *Tenho a permissão de pedir-lhe um artigo com o mesmo alto nível comum dos outros textos seus sobre o fuzil francês "chassepot"? Muito obrigado e parabéns pelo site!

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