sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A UBAL


Revólver S&W mod. 1917, cal. 45 ACP do contrato Brasileiro de 1937, a UBAL teria feito um suposto clone dele.


No rol das lendas e mitologia, até certo ponto não se sabe se eram mesmo simples imaginação, tradição, conto popular ou estória como no caso dos navegantes que viram sereias à distância. Um engano ocasionado, segundo dizem os cientistas, pelas visões de peixes-boi boiando na superfície d’água, ou seja, tinham origem em um fato real, mas transformadas pela tradição popular em conto fantástico, distorcido da verdadeira origem.
Bem, não há romantismo que agüente a comparação de uma estonteante e aloirada sereia com um gorducho Peixe-Boi (aliás, não sei onde os pesquisadores acharam uma destas), mas fazer o que? Miragens são comuns no deserto.
Pois bem, no rol das lendas oplológicas brasileiras, ao citar a praticamente desconhecida U.B.A.L. - Usina Brasileira De Armas Leves - não sei se falo sobre uma miragem ou sobre um fato real,
A UBAL seria uma pretensa fábrica nacional que teria existido em algum lugar da década de 1940, e teria fabricado uma autêntica cópia carbono do revólver S&W mod. 1917, cal. 45 ACP do contrato Brasileiro de 1937.
Aí começa o mais absoluto mistério, pois não existe nenhuma literatura, apenas alguns revólveres (de boa qualidade) que teimam em aparecer, apresentados geralmente ao circuito de colecionadores do Rio de janeiro e São Paulo.
Ninguém sabe absolutamente nada de exato sobre a origem de tais peças, onde ficaria a tal fábrica, quando foi fundada e por quem, etc.
Segundo uma das maiores autoridades brasileiras sobre história das armas do nosso exército, o amigo e “alfarrabista” Adler Homero Fonseca de Castro (mestre em História, pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Curador de Armas Portáteis do Museu Militar Conde de Linhares), estes revólveres seriam de um contrato de fornecimento de 10.000 armas assinado com o Ministério Da Guerra em 1942 (tendo a Taurus recebido um idêntico pedido na mesma época).
Os documentos militares consultados por Adler não citam contratos em 1943 ou 1944, o que leva a crer que as armas (os exemplares conhecidos ao que parece são todos de 1944) teriam sido tardiamente produzidas. Talvez tenha sido falta de máquinas, ferramentas, ou dificuldade de criar os moldes? Nossa industria de armas principiava apenas, e segundo Adler, estes seriam os únicos contratos referentes a armas assinados no programa de capacitação da indústria civil para a guerra em 1942.
Isso confirma a teoria do especialista Ian Veneziano, nosso confrade do site www.atiradoresecolecionadores.org , que sem estes documentos oficiais em mãos, supôs (e acertou), que estas armas seriam uma tentativa de suprir o EB, que na época estava efetivamente, entrando na Segunda Guerra... Teria a desconhecida UBAL vislumbrado a oportunidade de lucrar com o "esforço de guerra" e com a possível incapacidade da Smith & Wesson de atender novas encomendas naquele momento histórico?
A arma é absolutamente similar ao S&W M1917, com exceção das marcas no cano - "Usina Brasileira de Armas Leves" –, o brasão no mesmo lugar do brasão dos DA 1917 mais a data "1944" (ao invés de 1937/38), e nas talas da empunhadura o monograma da UBAL. A numeração de série dos exemplares vistos até agora é abaixo da casa dos 100, embora exista gente que “jure de pé junto”, que há alguns anos viu exemplar com numeração superior a isso.
No terreno sombrio das puras lendas urbanas, o desconhecimento completo do que seria a UBAL leva alguns colecionadores a crerem que estes revólveres são falsos, fraudes, não passando de armas originais da S&W remarcadas. Mas que sentido haveria nisso? Além do mais revólveres em calibre .45 já eram proibidos ao uso civil em 1944, obrigando o farsante a possuir uma partida deles em seu poder para mistificá-los com suas marcas e depois revendê-los ao Exército.

Para aumentar ainda mais a celeuma, há boatos de que a suposta UBAL teria sido encampada pela INA (Indústria Nacional de Armas), misturando outro ingrediente a este prato indigesto: o aparecimento de canos de revólver 1917 Cal. 45 timbrados com marcas da INA. Quanto aos canos nada de excepcional, a INA de fato produziu canos de reposição para os D.A. 1917 do Exército! Os canos são idênticos aos originais da S&W (inclusive com a logomarca e as inscrições)....
Outra lenda (pouco plausível creio eu, pois nunca se viu nenhum exemplar destes) diz que a própria INA teria manufaturado alguns protótipos de revólveres do mesmo tipo do S&W 1917. Isso se coadunaria com a hipótese da INA ter adquirido a UBAL e hipoteticamente ter continuado a fabricação dos S&W 1917 com o maquinário anteriormente utilizado pela UBAL (e dizem que além dos canos provavelmente fizeram outras peças de reposição para estas armas).
Ainda existem suposições de clones da pistola Colt 1911-A1 de manufatura da INA, sendo todos os modelos em 45 ACP.

Alguém saberia dizer algo sobre qualquer uma destas estórias? Acrescentaria algum detalhe, teria uma foto ou outros documentos?
Para variar, as brumas caem sobre a terra dos papagaios e as sombras cobrem o nosso passado...