sexta-feira, 15 de junho de 2012

Nosso objetivo maior é apenas a difusão da cultura técnica e social da oplologia, sem apologia a qualquer tipo de violência ou crime, portanto não fazemos avaliações em armas de fogo, nem damos informações comerciais .
Para entrar em contato sobre outros assuntos, use o e-mail vitrinedaarmaria@gmail.com

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A UBAL


Revólver S&W mod. 1917, cal. 45 ACP do contrato Brasileiro de 1937, a UBAL teria feito um suposto clone dele.


No rol das lendas e mitologia, até certo ponto não se sabe se eram mesmo simples imaginação, tradição, conto popular ou estória como no caso dos navegantes que viram sereias à distância. Um engano ocasionado, segundo dizem os cientistas, pelas visões de peixes-boi boiando na superfície d’água, ou seja, tinham origem em um fato real, mas transformadas pela tradição popular em conto fantástico, distorcido da verdadeira origem.
Bem, não há romantismo que agüente a comparação de uma estonteante e aloirada sereia com um gorducho Peixe-Boi (aliás, não sei onde os pesquisadores acharam uma destas), mas fazer o que? Miragens são comuns no deserto.
Pois bem, no rol das lendas oplológicas brasileiras, ao citar a praticamente desconhecida U.B.A.L. - Usina Brasileira De Armas Leves - não sei se falo sobre uma miragem ou sobre um fato real,
A UBAL seria uma pretensa fábrica nacional que teria existido em algum lugar da década de 1940, e teria fabricado uma autêntica cópia carbono do revólver S&W mod. 1917, cal. 45 ACP do contrato Brasileiro de 1937.
Aí começa o mais absoluto mistério, pois não existe nenhuma literatura, apenas alguns revólveres (de boa qualidade) que teimam em aparecer, apresentados geralmente ao circuito de colecionadores do Rio de janeiro e São Paulo.
Ninguém sabe absolutamente nada de exato sobre a origem de tais peças, onde ficaria a tal fábrica, quando foi fundada e por quem, etc.
Segundo uma das maiores autoridades brasileiras sobre história das armas do nosso exército, o amigo e “alfarrabista” Adler Homero Fonseca de Castro (mestre em História, pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Curador de Armas Portáteis do Museu Militar Conde de Linhares), estes revólveres seriam de um contrato de fornecimento de 10.000 armas assinado com o Ministério Da Guerra em 1942 (tendo a Taurus recebido um idêntico pedido na mesma época).
Os documentos militares consultados por Adler não citam contratos em 1943 ou 1944, o que leva a crer que as armas (os exemplares conhecidos ao que parece são todos de 1944) teriam sido tardiamente produzidas. Talvez tenha sido falta de máquinas, ferramentas, ou dificuldade de criar os moldes? Nossa industria de armas principiava apenas, e segundo Adler, estes seriam os únicos contratos referentes a armas assinados no programa de capacitação da indústria civil para a guerra em 1942.
Isso confirma a teoria do especialista Ian Veneziano, nosso confrade do site www.atiradoresecolecionadores.org , que sem estes documentos oficiais em mãos, supôs (e acertou), que estas armas seriam uma tentativa de suprir o EB, que na época estava efetivamente, entrando na Segunda Guerra... Teria a desconhecida UBAL vislumbrado a oportunidade de lucrar com o "esforço de guerra" e com a possível incapacidade da Smith & Wesson de atender novas encomendas naquele momento histórico?
A arma é absolutamente similar ao S&W M1917, com exceção das marcas no cano - "Usina Brasileira de Armas Leves" –, o brasão no mesmo lugar do brasão dos DA 1917 mais a data "1944" (ao invés de 1937/38), e nas talas da empunhadura o monograma da UBAL. A numeração de série dos exemplares vistos até agora é abaixo da casa dos 100, embora exista gente que “jure de pé junto”, que há alguns anos viu exemplar com numeração superior a isso.
No terreno sombrio das puras lendas urbanas, o desconhecimento completo do que seria a UBAL leva alguns colecionadores a crerem que estes revólveres são falsos, fraudes, não passando de armas originais da S&W remarcadas. Mas que sentido haveria nisso? Além do mais revólveres em calibre .45 já eram proibidos ao uso civil em 1944, obrigando o farsante a possuir uma partida deles em seu poder para mistificá-los com suas marcas e depois revendê-los ao Exército.

Para aumentar ainda mais a celeuma, há boatos de que a suposta UBAL teria sido encampada pela INA (Indústria Nacional de Armas), misturando outro ingrediente a este prato indigesto: o aparecimento de canos de revólver 1917 Cal. 45 timbrados com marcas da INA. Quanto aos canos nada de excepcional, a INA de fato produziu canos de reposição para os D.A. 1917 do Exército! Os canos são idênticos aos originais da S&W (inclusive com a logomarca e as inscrições)....
Outra lenda (pouco plausível creio eu, pois nunca se viu nenhum exemplar destes) diz que a própria INA teria manufaturado alguns protótipos de revólveres do mesmo tipo do S&W 1917. Isso se coadunaria com a hipótese da INA ter adquirido a UBAL e hipoteticamente ter continuado a fabricação dos S&W 1917 com o maquinário anteriormente utilizado pela UBAL (e dizem que além dos canos provavelmente fizeram outras peças de reposição para estas armas).
Ainda existem suposições de clones da pistola Colt 1911-A1 de manufatura da INA, sendo todos os modelos em 45 ACP.

Alguém saberia dizer algo sobre qualquer uma destas estórias? Acrescentaria algum detalhe, teria uma foto ou outros documentos?
Para variar, as brumas caem sobre a terra dos papagaios e as sombras cobrem o nosso passado...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O REVÓLVER WEBLEY MOD. BOXER


Continuando com a nossa série (acidental) sobre armas e guerras coloniais inglesas, iniciada com os projéteis “Dum Dum”, falaremos sobre o revólver Webley & Scott mod. Boxer em calibre 577.
Pode-se mesmo dizer que os ingleses foram os precursores das teorias de “stopping power” e “one shot stop” (respectivamente “poder de parada” e “parada com um só tiro”, tão em moda nas discussões atuais sobre balística terminal entre os partidários do Dr. Martin Fackler e os partidários das hoje famigeradas ta
belas de Evan Marshall).
A teoria de um cartucho de grande calibre que tivesse características de ser um legítimo “manstopper” (literalmente “parador de homens”), sempre rondou a mente dos projetistas ingleses. Certamente isso era um fruto amargo das experiências nas colônias britânicas da Ásia e África, onde os militares enfrentavam nativos patriotas obstinados e fanáticos
(que muitas vezes aumentavam a sua resistência física a dor com substâncias alucinógenas). Todo este processo resultava em impactos que não derrubavam imediatamente o adversário, antes que este acabasse com a fleuma do oficial inglês que teimava em descarregar seu revólver contra ele.
Sem dúvida tais
razões nortearam o desenvolvimento destes projéteis, e mesmo outros para armas longas (vide artigo neste blogue sobre a munição “dum dum”).
Como as espadas e os revólveres da época, eram armas de porte apenas dos graduados e do oficialato, os soldados rasos ingleses devem ter passado por maus bocados em mais de um episódio, pois o fuzil regulamentar inglês P-53 (como t
odos da época de pederneira ou percussão), era de antecarga com capacidade de apenas um disparo. Devia ser desesperador ficar com a arma descarregada frente a ondas enormes de adversários determinados e corpulentos, armados com espadas curvas e outras armas brancas exóticas, tendo como arma reserva apenas uma baioneta. Aliás, mesmo os posteriores e mais modernos fuzis Martini-Henry de cartucho metálico, com ação falling block, falharam em proteger os 1300 ingleses mortos no famoso massacre de Isandlwana, em Zululand, África do Sul, em 1879 (1.800 ingleses contra pelo menos 20.000 guerreiros da etnia Zulu).
A experiência inglesa em combates corpo a corpo, mostrou que
armas de pequeno calibre e maior velocidade, como as decepcionantes Colt Navy “made in London”, em cal. 36, compradas de maneira particular por muitos oficiais britânicos e usadas alguns anos antes em outras ocasiões; e ao que parece até mesmo os revólveres Adams/ Tranter em calibre .44 e .45 de percussão se mostraram fracos para os adversários coloniais dos ingleses.
O revólver que responderia a esses anseios como eficaz arma de defesa em combates a curta distância aparece em 1868, fabricado também pela famosa casa Webley com o nome de Webley Nº 1 ou mod. “Boxer”.

Sua história começa com a introdução da conversão Snider de cartucho metálico para os fuzis de antecarga Enfield P53 e outros (ver “balas, sebo e uma guerra...” neste blog). A ordenança acatou a sugestão de se adotar um revólver que calçasse munição com o mesmo diâmetro do fuzil (.577). Embora muitos atribuam a Webley o desenho que foi escolhido, sendo até hoje o modelo conhecido como Webley .577 Boxer Revolver, este na verdade pertencia a famosa firma de William Tranter sediada em Birmingham (curiosamente há um livro que diz que o desenho pertencia a John Adams, projetista de renome e um dos donos da tradicional fábrica inglesa Adams de armas curtas. Seria um destes imbróglios de patentes do fim do séc. XIX?).
Foram produzidos por Webley sob licença alguns exemplares, e além da Webley este modelo também foi fabricado pelo próprio Tranter e pela firma Braendlin. Os exemplares de 5 tiros feitos pela Tranter seguiam uma numeração de série geral, os de 6 tiros da Braendlin tinham númeração de série própria. Alguns afirmam que Braendlin fez tanto as versões de 5 tiros como as de 6 tiros (com canos de 4 polegadas). Estas armas são reconhecíveis pelo timbre Tranter Patent/ Braendlin Improvement, referente às modificações introduzidas por Braendlin no antigo desenho do tambor dos Tranter – que era derivado dos antigos tambores convertidos de percussão - com a substituição dos pinos percussores independentes para cada câmara, por um único pino de disparo montado no cão. A firma Tipping & Lawden de Birmingham ao que parece produziu exemplares do .577 bem semelhantes aos Webleys, também sob licença de Tranter antes de serem comprados pela Webley em 1887.
Na descrição geral, pode-se dizer que se trata de um maciço revólver de corpo sólido e ação dupla. Possui um pesado corpo forjado (martelado, com cano integral a armação) e um volumoso tambor de paredes finas (que alguém descreveu na aparência como “vários tubos soldados juntos”) que tinha de sair inteiramente da arma para a recarga, com a retirada de um pino frontal. Os estojos ficavam no tambor presos pelo culote a uma placa de apoio com furos para a expansão das espoletas, pois havia o risco de uma primitiva espoleta boxer estufar, e travar o elevador do tambor, ou o pino percussor impedindo o giro e o acionamento da ação dupla para o disparo seguinte. Este foi o real motivo do uso deste curioso sistema. Mesmo um rompimento do frágil estojo de latão enrolado seria certamente fatal ao atirador pelo risco de explosão da arma. Esta arma não possuía extrator e praticamente se desmontava o tambor inteiro para a recarga, sendo este seu maior ponto negativo para uma arma de combate: a lentidão de recarga, e em caso de perder uma das peças no calor de uma refrega certamente a arma ficaria inutilizada.
O modelo fabricado pela Webley tinha como características técnicas um comprimento total de 241 mm, cano de 127 mm (5,0 pol.) com sete raias dextrógiras, miras fixas, peso de 1190 g, e capacidade de 6 tiros em calibre 14,6 mm.
Este modelo teve vida curta, a própria Webley o substituiu em 1876 pelos revólveres com a patente do projetista Charles Pryse para um revólver tipo top-break, ação dupla, com sistema de abertura por duas alavancas laterais na carcaça e ejeção automática de estojos. O calibre era o 45. Em 1877 surgia o Webley-Pryse nº 4 disparando o calibre 476, (estas armas não foram feitas pela Webley em .577). Este design de Pryse era muito popular e foi fabricado e comercializado por diversas casas, autorizadas ou não. Ao que parece Webley não obteve a exclusividade desta patente e curiosamente o concorrente direto do Webley Nº 1 era uma versão famosa deste modelo (e deve-se dizer que bem mais prático que o nº 1 pelo sistema de carga), sendo comercializado a partir de 1877 em calibre .577 pela firma inglesa Bland, e conhecido como Bland-Pryse. Os Pryse foram bem copiados na Bélgica, inclusive por August Francotte & Co. de Liege. Uma versão belga feita por Jacques Nicolas Gilon usava um calibre nominal .600, (na verdade praticamente o mesmo que o inspirador inglês). Havia também cópias alemãs que disparavam o mesmo cartucho.
Outras armas que usaram o calibre .577 foram pistolas de tiro simples, cano duplo ou múltiplo com as Howdah, estas eram armas de grosso calibre com dois ou quatro canos (o termo howdah ou Houdah, vem de Hathi Howdah, que é uma liteira hindu tradicional que ia montada no lombo dos elefantes). Eram muito usadas para defesa de caçadores britânicos na Índia e África.


O cartucho .577
o gorducho e curto 577-2ª versão

Na época dos cartuchos carregados com a fraca pólvora negra, a única opção para se aumentar a potência era aumentar a carga de pólvora, visto que cartuchos de baixa velocidade transferem melhor a energia ao alvo quando tem calibres mais largos. Então obrigatoriamente se aumentava a longitude do estojo ou se aumentava o calibre e conseqüentemente a capacidade volumétrica interior da cápsula. Esta foi a solução inglesa para um dos cartuchos de arma curta mais poderosos da época: o .577 Boxer.
Desenhado pelo famoso Coronel Edward Mounier Boxer em 1868 (Superintendente do Laboratório Real Britânico no Arsenal de Woolwich), a primeira versão deste cartucho tinha estojo com corpo de papelão com metal enrolado na base e pescoço de aço (lembrando um cartucho de espingarda), usando a espoleta de fogo central inventada por Boxer. Logo depois vieram os tipos feitos com tiras de latão enrolado – a liga de “ouropel” – e soldados a uma base sólida de ferro com orifício para as famosas espoletas do Cel. Boxer (usadas até hoje), e por fim os de metal estirado, inteiriços, semelhantes aos modernos. O seu calibre tinha o mesmo diâmetro da munição (de projétil desengastado) do fuzil regulamentar: o .577 (14,6 mm), um calibre “mastodônico”para uma arma curta.

Utilizou-se inicialmente projéteis de chumbo sólido com calibre real de 14,8 mm ou .583, com um projétil pesando até 304 grains, montado num estojo com 20,9 mm de comprimento. Depois se mudou para projéteis com base oca auto-ajustável ao raiamento, semelhantes aos do fuzil. Este primeiro cartucho também é conhecido como .577 boxer, .577 boxer pistol, .577 coiled pistol, ou .577 pistol.

O segundo modelo já era de estojo metálico inteiriço e apareceu em 1872, sendo conhecido como .577 revólver. Tinha calibre real de 15,55 mm ou .612,com um projétil 450 grains. Comprimento de estojo de 25,85 mm e o cartucho montado media 31,40 mm. com um projétil pesando até 450 grains, a velocidade inicial era de 221 m/s, e a energia na boca do cano de 72 kgm. Em catálogos ficou conhecido também como 577 boxer pistol, 577 coiled pistol, 577 solid pistol, 14,75 x 20,90, e DWM 274. Foi manufaturado na Inglaterra pela firma Eley Company (e fora dela somente na Alemanha). Aparece disponível em catálogos até 1925.
Embora tendo tido uma curta vida militar, o Webley nº 1 e o conceito de seu cartucho fizeram escola, pois os ingleses ainda perseguiriam por muito tempo o cartucho “one shot stop”, surgindo finalmente tempos depois os cartuchos .455 Webley Mk III com seus projéteis "hollowpoint”e depois os Mk IV, do tipo flat-nosed wadcutter, os famosos "Manstopper”, e os .303 Dum Dum, que serviriam orgulhosamente a sua majestade e veriam muita ação até serem proibidos pela convenção de Haia. Doces lembranças para os ingleses de uma época onde “o sol não se punha” no império britânico e suas armas de mão eram as mais potentes do mundo.

domingo, 2 de outubro de 2011

CHAPINA


Aos leitores. Caso não tenham lido a minha apresentação, não intermediamos negócios, não representamos lojas e/ou armeiros, nem tampouco conheço ou tenho contato com os Chapina. Grato pela compreensão.

A Empresa Irmãos Chapina S/A. Industria Metalúrgica, foi fundada nos anos 60 no município de Itaquaquecetuba/SP.
O carro chefe da empresa eram as carabinas de ferrolho no calibre 32-20 WCF, muito usadas pelas empresas de transporte de valores do período, sendo também o 32-20 o maior calibre permitido no país para uso civil naquele momento de governo militar.
As armas feitas pela Chapina eram de muito bom acabamento, sendo a série inicial de 1.200 carabinas produzidas com canos microraiados. As coronhas podiam ser do tipo Monte Carlo ou ter um orifício para o dedo polegar. No total foram produzidas 6.000 destas armas.
Fala-se que a Chapina teria produzido uma rara versão de tiro único em calibre 30 M1 (.30 carbine), outros dizem que teria um carregador para 15 cartuchos ao invés dos tradicionais 05 do modelo em calibre 32-20. Assim é apresentada em diversos sites internacionais, mas, nunca vi nenhum exemplar e cito mais como curiosidade, pois faltam dados concretos.


carabina Chapina 32-20, excelente arma nacional

A Chapina também fez espingardas e pistolas de ar (os modelos 22, 27, e mod. Hermes, todos em calibre 4,5 mm, algumas para uso de setas e rolhas) fabricadas de 1964 até 1975.

Dentre outras diversificações na linha de produção a Chapina ainda produziu algemas, torneiras de luxo e canos de armas, sendo elogiadas pelo raiamento cuidadoso, principalmente para armas longas nos calibres 44-40, 38-40 e 32-20 (certamente peças de reposição para armas da Winchester, bastante populares em nosso país). Para armas curtas produziram canos para pistolas 6,35 e 7,65mm, inclusive das antigas FN). Ainda se falando em canos, produziam canos para os revólveres da Caramuru (modelo R1, cano octogonal de 5 raias).
Os irmãos Chapina saíram do negócio no início dos anos 1980, tendo vendido o maquinário a um grupo que não continuou a fabricação de seus produtos.